Hoje renasci nos olhos de Cecília. Seus pezinhos saltitantes mal denunciaram sua repentina presença ao meu lado. Sentou-se, quietinha, mirando, atenta, a cada ínfimo movimento meu. Cecília tem observado mais do que falado, nos últimos dias.
Num assomo de curiosidade, perguntou:
- Tia, cê é médica, pra que ler livro assim tão grande que nem tem nenhuma figura de corpo humano?
Numa frase, Cecília, delicadamente, questionou-me tudo.
Pousei 'Grande Sertão: Veredas' de Guimarães na mesa ao lado da poltrona, abri meus braços e Cecília já estava em meu colo. Fitei seus olhos negros e brilhantes e, com seus 7 anos, eles tinham força tamanha capaz de ofuscar meu progressivo descontentamento com o mundo. Seus cachinhos tremiam, curiosos e sua cabecinha fazia sinais afirmativos encorajando minha resposta.
Acredito que Cecília sempre soube o porque eu não leio só livros com figuras de corpo humano e de doenças. Mas Cecília quis que eu falasse. E com a voz embargada e o peso de um mundo todo em meus ombros, confirmei:
- A tia quer cuidar das pessoas. Mas antes precisa aprender a vê-las.
escrito em meio a uma crise, e em homenagem à Cecília - que está por vir.
escrito em meio a uma crise, e em homenagem à Cecília - que está por vir.
Todos temos uma cecília com olhos para nos questionar. Ao menos a maioria. Que ela venha bem.
ResponderExcluirBelo texto.
Obrigada (: E que acordemos a Cecília adormecida em cada um de nós.
ExcluirNão lhe conheço, Vanessa. Fiquei emocionado de ver que nos pampas há menina que se vê nos olhos de uma Cecília. E que percebe nos pequenos contos a imensidão das palavras concisas. As gramíneas do sul têm prazer em forrar o chão que tu pisas. Certamente. Não repare, às vezes dou para encantamentos.
ResponderExcluirhttp://www.terezacomz.blogspot.com.br/