sábado, 30 de abril de 2011

Lis, flor de lis. Lispector. Flor de lis no peito.



Noite de sábado, pausa nos estudos para a prova de anatomia e lembrei de um vômito literário que tive numa tarde chuvosa de 2010.
É um texto rápido, intenso - um desabafo feito no cursinho, durante uma aula de literatura sobre geração de 45.
Destina-se a Clarice, a minha eterna musa...




O que é uma epifania? O que é um fluxo de consciência? Nessa sala fria, nessa tarde cinza, nesse ambiente hermético, pergunto-me aonde andas.
Conceitos. Tópicos. Fórmulas. Literatura feminina. Literatura burguesa. Não! Qualquer vã tentativa de organizar, classificar a tua sensibilidade já é falha em essência. Que espécie de apropriação é essa que julgam ter sobre o que pensas, sobre o que és?
Lis, flor de lis. Lispector. Flor de lis no peito. Não estás aqui e só posso te sentir dentro de mim. Da vez primeira que te li, da vez primeira que te senti, julguei que jamais compreenderia a tua caleidoscópica força. Mas aprendi, tenho aprendido, que não necessito pensar ou compreender tua plenitude. Tu é que me compreendes, serena desesperada. Fecho os olhos - a voz do professor ao longe. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento. Minha alma-irmã, ajuda-me a me render, assim como tu alcançaste essa aceitação plena.
Uma aprendizagem. Ou o livro dos prazeres. Tua obra é um olhar, tua obra é o mundo. Não queres simplistas relações, não queres que encontrem tua biografia em tua obra. Não queres limitações.
A dor que sinto faz com que eu aperte ainda mais o lápis contra o papel. Não me abandones, jamais. Tuas palavras me apunhalam e me consolam. Tua literatura é a minha companheira há tempos.
Clara, Clarice, tua genialidade jamais será compreendida por todos. Vives, és um coração batendo no mundo. Agora, quem és? Bem, isso já é demais.
Felicidade clandestina: sorrio e lembro da eterna menina que sou. Perplexa, olhando para um livro, amando as letras sem jamais encontrar plenitude.
Serenamente, aceito que não estás nessa sala. Estás em mim e por dentro e por fora de tudo o que consigo sentir.


Porto Alegre, tarde do dia 26 de outubro de 2010.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Pequena leitura da visão de uma caloura.

            Vivenciar a diversidade é um privilégio, e um privilégio grande. Eis um dos tantos sentimentos que tem regido as minhas primeiras semanas na FURG. E sinto-me feliz ao saber, por meio de comentários diários, que os demais colegas da ATM 2016 compartilham tal percepção.
            Somos um grupo atípico. Reunimos as mais variadas origens, sotaques, estilos, preferências. Entretanto, um sonho chamado medicina nos uniu e no sul do sul do país cá estamos. 
            Toda travessia é marcante e o ingresso na universidade não é, pois, diferente. Perspectivas e anseios já naturais somaram-se ao fato de estarmos fazendo parte da primeira turma da FAMED selecionada única e exclusivamente através do Enem. Como seria a convivência de uma turma tão heterogênea? Felizmente, a nova conjuntura tem se mostrado encantadora e os nossos medos são, gradativamente, atenuados. As dificuldades iniciais existem e persistem, contudo afirmo que a riqueza que experimentamos desde já recompensa muito. 
            Nada é construído sem trabalho e nenhuma relação saudável pode ser forjada. Nessa perspectiva, admiramos demais o esforço e a preocupação que os nossos veteranos tiveram e continuam tendo conosco. A ATM 2015 apresentou-nos a ações já tradicionais dentro da FAMED, como a doação de materiais (feito que atingiu o seu ápice com a criação do ‘cd do kit bixo’ contendo resumos e materiais de apoio para os calouros) e a organização da confecção dos nossos jalecos. Atos que, para mim, soaram como palavras silenciosas de boas-vindas. 
            Mas a doação de materiais, a ajuda em questões burocráticas e outras ações promovidas são feitos visíveis. E o que quase não se pode descrever? Tenho muito que agradecer pela acolhida respeitosa e pelo apoio emocional que recebi dos colegas de turma, dos veteranos e, inclusive, de integrantes de outros anos. O projeto “Recrutas da Alegria” fez-nos mergulhar em uma oportunidade imensurável afinal, como já mencionava Charlie Chaplin, um dia sem um sorriso é um dia perdido. 
            Na FAMED, encontramos uma recepção que, talvez, não encontraríamos em nenhum outro canto do Brasil. Ouvir um ‘quando precisar de algo, podes me chamar’ compensa muito a distância e a saudade da família – que, em muitos casos, está a mais de 2000 km. A partir de tão boa impressão acerca da FURG e da Faculdade de Medicina, também expresso aqui a minha frustração acerca de boatos que dizem a respeito de um suposto ‘trote’ praticado por veteranos e calouros. Tal ação não foi praticada por nenhum integrante da FAMED, visto que o objetivo foi respeitar as normas vigentes da instituição de ensino. 
            Não deixemos que o encantamento inicial nos cegue e iniba as nossas ações - a ATM 2016 deve estar ciente dos desafios e da responsabilidade no engajamento por mudanças no que cerne aos problemas e aos empecilhos que encontraremos nos mais variados âmbitos.
Dessa maneira, desejo aos colegas de sala de aula força nesse início de jornada. Os primeiros passos na medicina são, afinal, apenas os primeiros passos. 
Por fim e ao cabo, um sincero agradecimento a todos da FAMED que, de alguma maneira, ajudaram a mim e aos meus colegas – sejamos do sul, norte, nordeste, centro-oeste, sudeste do Brasil – a nos sentirmos em casa. 

segunda-feira, 11 de abril de 2011

O início: lembrete e desafio.

Deixar que me leiam é um desafio. Um desafio que exige, frustra e recompensa. 
A idéia de ter um leitor pode ser exaustiva e estar exausta requer coragem... Por outro lado, os tantos cadernos antigos com rabiscos e desajeitadas tentativas literárias clamam por liberdade - e talvez, quem sabe, agora ganhem novos olhos leitores que não os meus.
Aos poucos - meio que como a mãe cautelosa que experimenta a água antes de confiar o seu bebê à banheira - fui publicando pequenas notas no facebook, lançando reflexões, por vezes tão tolas, no twitter e lapidando a idéia de ter um blog.

Cada elemento deste blog foi e será pensado. O nome 'Epifanias Wilwarianas' carrega muito de mim. Epifanias é  - além de uma referência ao maravilhoso 'Pequenas Epifanias' de Caio Fernando Abreu, o lembrete de um objetivo pessoal: viver, a cada novo aprendizado, dentro ou fora da Medicina, epifanias cotidianas.
Já 'Wilwarianas' vem de Wilwarin - palavra que significa 'borboleta' em quenya (língua élfica criada pelo mestre J.R.R Tolkien). E por que borboleta? 
Bom, borboleta é o significado do meu nome. Vanessa é um nome cunhado por Jonathan Swift (autor de 'As viagens de Gulliver') a partir do início do sobrenome de sua amante Esther 'Van'homrigh. O nome Vanessa foi citado por Swift pela primeira vez em 1726 no poema Cadenus e Vanessa e o autor atribuiu a ele o significado de 'borboleta'.
Para mim, 'borboleta' é um nome que soa lindo em diversos idiomas, em especial o espanhol 'Mariposa' que a palavra em si já imita o pousar suave das asas uma butterfly.


Que 'Epifanias Wilwarianas' seja um refúgio para as minhas randômicas e multifacetas visões de iniciante na medicina e de amante incondicional das letras.