segunda-feira, 28 de maio de 2012

(Des)construção

Não tem sido fácil desconstruir. A cada dia que tenho coragem para acordar, acordar para a curiosidade dos tantos caminhos, contemplo mais e mais os caminhos da vida real. Esses caminhos que estão me mostrando a dor, o sofrimento e a frieza. A cada dia, tanta desarticulação. Mas eu entendo, entendo que não é fugindo que evitarei a desarticulação que virá, que vem. Tem sido necessário para que eu vejo tanta coisa que se fosse bonita e perfumada, eu nem teria visto, passaria sem entender. É necessário. Nessa desconstrução tem tanto choque, tanto despertar abrupto, baque forte entre mim e outros realidades. Desejo estar preparada para isso. Mas sem antecipar a descoberta, sem tomar por imutável o que outros viram antes.Sei lá. Hoje pensei que, enfim, que bom que estou desarticulando tanta coisa. Se sou capaz de sofrer intensamente na (des)construção também é possível, e ninguém tira isso de mim, articular outras coisas com imensa alegria.

domingo, 27 de maio de 2012

O mundo e palavra

Leio a palavra e através dela o mundo ou leio o mundo a através dele a palavra? Amada dinâmica louca essa a da realidade e da linguagem.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Cecília

Hoje renasci nos olhos de Cecília. Seus pezinhos saltitantes mal denunciaram sua repentina presença ao meu lado. Sentou-se, quietinha, mirando, atenta, a cada ínfimo movimento meu. Cecília tem observado mais do que falado, nos últimos dias.
Num assomo de curiosidade, perguntou:
- Tia, cê é médica, pra que ler livro assim tão grande que nem tem nenhuma figura de corpo humano?
Numa frase, Cecília, delicadamente, questionou-me tudo. 
Pousei 'Grande Sertão: Veredas' de Guimarães na mesa ao lado da poltrona, abri meus braços e Cecília já estava em meu colo. Fitei seus olhos negros e brilhantes e, com seus 7 anos, eles tinham força tamanha capaz de ofuscar meu progressivo descontentamento com o mundo. Seus cachinhos tremiam, curiosos e sua cabecinha fazia sinais afirmativos encorajando minha resposta.
Acredito que Cecília sempre soube o porque eu não leio só livros com figuras de corpo humano e de doenças. Mas Cecília quis que eu falasse. E com a voz embargada e o peso de um mundo todo em meus ombros, confirmei:
- A tia quer cuidar das pessoas. Mas antes precisa aprender a vê-las.

escrito em meio a uma crise, e em homenagem à Cecília - que está por vir.