terça-feira, 12 de junho de 2012

Sobre manhãs frias e sonhos

     Acontece. Há aquelas manhãs frias em que a pequena chama de esperança dentro de mim quase se apaga. Aquelas manhãs frias em que quando o despertador toca, e o mundo fora das cobertas parece terrivelmente ameaçador, nos minutos em que procuro - em algum lugar - um ímpeto (por menor que seja) para levantar vem à mente, o tipo de pergunta ”Por que, afinal, eu tô fazendo tudo isso?”
      Pois é, a tal busca por um sentido para tudo. Parece piegas, e é. Aliás, em muitos momentos é realmente muito piegas. Mas, confesso, entre uma soneca e outra do celular, essa busca me faz ter a força necessária para, enfim, entrar num banho, tomar um café, sair de casa. E ao sair do meu prédio, quando o coração parece seco demais perto do úmido e gélido dia riograndino, mais uma vez tenho certeza de que todos estamos saindo de casa, sendo engolfados por nossos dias, porque todos somos, mesmo que só um pouquinho, todos somos sonhadores.
     Quando vestibulanda, contemplava com olhos insaciáveis, a imensidão de possibilidades e de dificuldades até alcançar o que chamava de “meu sonho”. Hoje vejo, pois tenho aprendido, nem sempre mansamente, que os sonhos não residem meramente em realizações concretas. A aprovação no vestibular foi um símbolo - a caminhada é que foi o sonho sendo erguido e destruído e reerguido tantas vezes. Penso, são as passagens que se continuam, unidas e regidas por essas nossas vontades e ânsias e planos e tudo isso não tem sentido se não acreditamos, se não sonhamos. 
       O gosto pelas coisas secretas me faz sonhar. A minha fé me faz sonhar. E ter fé não é unir as mãos e acreditar toscamente. Oh Deus, tu bem sabes quantas vezes somos feridos quando caminhamos com fé. Porque sonhar também pode ser caminhar com fé. E caminhar implica agir, cair, sacudir a poeira, seguir. Dói. 
      As mãos endurecidas e os ombros que pensam suportar o mundo querem nos dar certezas, e os sonhos questionam cada uma destas certezas. Em tempos em que não se diz mais ‘acredite’, diz-se: ‘vai e vence acima de tudo’, é bem possível que quem sonha, como mestre Álvaro de Campos registrou, perceba: “Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
     Sabemos tão pouco sobre sonhos, embora não vivamos sem sonhar. Chego a pensar, às vezes, nos sonhos como entidades independentes, que nunca morrem, permanecem ali, quietinhos, na alma das pessoas, na medida em que nos basta, como se abrigássemos aquela delicada quantia de sonho que cabe em nós.
      Perceber que só saio da minha cama quentinha porque os sonhos tem esses fios invisíveis de fé e de amor que me puxam tem sido um
 contato interior belo e inexplicável. 
     E, quando os esforços parecem inúteis, o espetáculo diário grotesco, a morte mais viva do que a própria vida, volto-me, resignada e digo a mim mesma, repetidas vezes: ninguém pode sonhar por mim.

domingo, 10 de junho de 2012

Querer

Quero a delícia de não ter essa vontade de chorar toda a noite. Quero deixar de querer isso, logo. E aí estarei sorrindo.