domingo, 10 de fevereiro de 2013

'Cause Mama, Mama, I'm coming home


ao som de "Long Long Journey - Enya"


Retornar: também pode ser poesia. 
Volver: como texto em prosa que se organiza, repentinamente, em poesia. Intraduzível, revisitar (ainda que não seja Lisboa) revisitar é intraduzível.
Objetos, alguns novos, outros não vejo mais, pergunto-me onde estarão. Não estão mais, apenas. Como eu não estou mais (talvez). Os móveis costumavam ser meus, mas não são mais móveis. Lembranças em forma de madeira, madeira bruta. 
Nunca soube escrever poesia, e ainda assim estava pensando em uma poesia sobre a madeira bruta, bruta como a palavra que sai atropelando, garganta à fora.
Esboço algumas linhas, sentada na cama. Pedaços de mim estão nesse quarto e em vão tentaria juntá-los, se houvesse como. 
Mas sei que não é possível.
Fosse triste, fosse feliz. Qualquer sentimento ou possibilidade que fosse, não seria possível. Porque já tenho outras casas: quatro ou mais pontos difusos no céu e a distância que me faz crescer. 
Apenas é: percorrer, voltar e encontrar um pouco do que fui.
Já amanhece e o brilho azul-acinzentado do dia penetra no quarto, envolvendo a melancolia. Reverberação infindável de saudade, ecos de agradecimento: canção viva.
Fecha os olhos e descansa, pequena.
Hoje não é preciso verificar se a porta está trancada.
Porque hoje tu estás em casa.