sábado, 31 de dezembro de 2011

Receita de Ano Novo






Receita de Ano Novo

(Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

(Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997)

domingo, 25 de dezembro de 2011

Natal


"De nada adianta o Cristo nascer mil vezes em Belém se ele não nasce no coração do homem também." 
(Aun Weor)


Feliz Natal para todos! ;)



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Com tentáculos

Fico imaginando até onde elas vão, até onde vão as palavras. Imagino-as com tentáculos invisíveis abraçando e envolvendo quem as ler, ou melhor: quem se permite ler, ler de verdade. Gosto de palavras envolventes, palavras que ficam!
Tentáculo é assim, é uma palavra que permanece. Mas permanece em movimento. Tanta coisa ruim, tanta coisa boa que chega e prende a gente, sufoca, angustia, e nos deixa nos os olhos saltados; olhos esbugalhados de desespero. Ah, enfim, deixa pra lá, por ora, deixa pra lá essa história toda de olhos saltados e coração apertado.
Quero mais é ser envolvida pelos tentáculos gigantes de cada palavra, deixar que eles se infiltrem em cada suspiro, cada olhar. Até que eu compreenda que não existe um até. Nas palavras o que existe é um além. Sem essa de aqui começa um e ali termina outro vocábulo. Deixemos que os tentáculos envolventes nos abracem e entenderemos (sem traduções ou reformas gramaticais!) porque as palavras são contínuas e íntegras mutantes.
Só preciso entender muito mais sobre esse imenso além literário.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Da vontade de escrever

Queria escrever o mundo. Parece que descobrimos tudo já, exceto como escrever o mundo em uma palavra.
Mudo para continuar sendo a mesma e queria saber escrever com palavras mutantes para que elas, então, fossem para sempre.