terça-feira, 29 de novembro de 2011

Das vontades de hoje à noite,



Das vontades de hoje à noite,

Tenho duas provas amanhã e não sinto lá muita vontade de estudar não. 
Hoje, desejo coisas tão maiores. 
Vontade de caminhar mais e mais perto de coisas e de pessoas verdadeiras, desfrutar de amizades sem fraudes. Vontade de fugir dos palpites, dos achismos. Vontade de compreender que muitas das verdades não são nada mais do que meros palpites. Vontade de aprender a escutar mais, escutar com os olhos, com o abraço. Tudo. 
Senhor, ajuda-me a conversar mansamente, sem objeções, ouvindo e dizendo honestamente todas as coisas feias e bonitas que desejo dizer. 
Conversar com os olhos nunca será perda de tempo. Sim, os olhos que muitas vezes tenho abaixado ou desviado - os olhos que sensíveis e um pouco desiludidos não deixam de espreitar e (re) descobrir novos caminhos. 
Permita-me afirmar que até um beijo, até um beijo é melhor quando já foi antes dado com os olhos, é possível beijar milhões de vezes com os olhos antes de se chegar à boca.
Das vontades de hoje à noite fica uma certeza: vontade de viver mais e de opinar menos.

sábado, 26 de novembro de 2011

Dos erros

ao som de Decode - Paramore.

Muito assustada e num segundo, um só segundo, a mulher entendeu que errara. Teve uma revelação clara da magnitude dos próprios enganos (manipulados e alimentados por si mesma) e questionou-se como tinha, Céus, como tinha podido sustentar com tanta ferocidade aquelas idéias?
Como podia ter agido ao contrário daquilo que pedia a Deus todas as noites?

Do chá amargo e dos olhos vermelhos.


- Não entendo muita coisa, ele disse tomando mais um gole do chá amargo.
- Não precisa entender, disse eu arrancando as palavras do fundo de sei lá o que. Queria chutar tudo, sabe, ou abrir minha cabeça, abrir um buraco para que as idéias e as palavras fugissem como pequenas névoas. 
- Teus olhos estão vermelhos, e mexeu com veemência o chá já frio.
- Gosto dessa xícara velha. 
- Não muda de assunto.
- Ela é velha, já manchada de café desde sempre...
- Mas teus olhos estão vermelhos.
- Sinal de que estou viva, ao menos.
Ele sorriu e eu quis abraçar cada pequena expressão daquele rosto cansado. Acho que quem não conhece não pode condenar, simplesmente condenar é horrível — é preciso compreender cada pequena expressão de cada pequeno rosto cansado por aí.
- Desculpa por ser tão relapsa, desabafei como se estivesse falando comigo mesma.
- Tudo bem. Há mais foco em ti do que tu pensas.
- Não sei, não. Ando achando que não levo jeito para as coisas, sabe? Não falo de vocação. Falo além. Tanta pressão.
- Por isso teus olhos estão vermelhos?
-  Ando pensando sobre espinhos de rosas. Talvez possa escrever sobre espinhos de rosas.
- É mesmo? E segurou minha mão.
- Acho que seria um bom texto. Um só pequeno espinho de rosa. Virei a mão dele e comecei a desenhar pequenas linhas imaginárias ao redor dos seus dedos. Nada grande demais, continuei falando, apenas um pequeno espinho de uma flor que tu não consegues arrancar da palma da tua mão. E dói fininho. Tu pegas uma agulha e usas a ponta pois sabes que se não conseguir se livrar do minúsculo espinho vai se transformar numa chaga e não será mais uma dor pequena.
- Dá pra escrever sobre chagas começando com um pequeno espinho?
- Dá. E senti o vento frio da noite batendo em meu rosto. Abaixei a cabeça. Dá sim, um dia escreverei.
- Quer mais chá? Senti urgência em sua pergunta, soltei a mão dele como se tivesse muita energia demais para suportar aquele contato.
- Tanto faz.
- Tanto faz?
- Sim, minha cabeça dói e eu vou gritar muito. Tu vais te afastar de mim por causa do meu grito?
- Ela acordaria a vizinhança inteira?
- Legião Urbana, sempre genial. Não consegui deixar de sorrir.
- Tem muita coisa genial por aí.
- É verdade. Me abraça? Falei mais do que pedindo, implorando.
- Eu?
- Sim, um abraço teu. Vou ficando acuada, longe: não quero ficar assim, não me deixa ficar assim.
- Não vou deixar! Mas me conta: porque teus olhos estão vermelhos?
- Por causa dessa morte constante de tudo.
- Sossega, pequena, há bastante vida. Até na morte.
- Eu sei. Mas e o frio?
- O frio do lado de fora da nossa roupa ou o frio dentro do nosso coração?
- Me pegaste nessa.
Rimos.
- Já é meia-noite. Faça um pedido.
- Não tenho um só, ele disse abruptamente.
- Não importa. Pensa num maior, naquilo  que tu mais queres além de doces, doces e doces, boa música, um "café forte e um novo amor."

- Quero que teus olhos deixem de estar vermelhos todas as noites.

Texto dedicado a Caio F. Abreu me entenderia e me ajudou a apreciar singelos diálogos.